Com acento ou sem? Junto ou separado? Entenda o porquê!
É verdade que a gramática do português não é das mais simples, um exemplo disso é a chamada “regra dos porquês”, que aliás é o tema deste artigo. Apesar das tantas variações possíveis, utilizar corretamente os “porquês” não é nenhuma missão impossível, e pode ficar ainda mais fácil se ao invés de nos apegarmos as nomenclaturas gramaticais e as funções sintáticas, pensarmos a partir daquilo que já sabemos construindo associações e compreendendo os usos de cada um deles.
Por que (separado e sem acento)
Essa é com certeza a forma com mais variações de uso, se engana quem pensa que ela serve só para perguntas. A dica aqui é a palavra razão, quando essa palavra puder ser embutida (antes, depois ou ainda subentendida ao por que) na frase, sem que haja um prejuízo no seu sentido, utilizaremos o por que, separado e sem acentuação. Também utilizamos essa forma quando ela puder ser integralmente substituída pelos termos “por onde”, “por qual”, “pelo qual” “pelos quais”, “pela qual” ou “pelas quais”.
Veja esses exemplos a seguir:
- Por que você estudou antes? / Por que (razão) você estudou antes?
Utilizado em uma interrogativa direta.
- Queria saber por que não fomos avisados. / Queria saber por que (razão) não fomos avisados.
Utilizado em uma interrogativa indireta.
- Você não sabe por que eu fiz isso. / Você não sabe por que (razão) eu fiz isso.
Utilizado em uma declarativa negativa.
- As causas por que lutamos são sociais. / As causas pelas quais lutamos são sociais.
Aqui aparece substituindo o termo “pelas quais” em uma declarativa afirmativa.
Agora que já sabemos que o por que não serve apenas para as perguntas, vamos ao que comumente dizem que deve ser empregado apenas em respostas, o porque junto e sem acento.
Porque (junto e sem acento)
Para o termo porque a dica é a palavra pois, se você puder substituí-las sem haver prejuízo no sentido, então a está utilizando corretamente.
Essa forma está relacionada à ideia de resposta pois é uma conjunção que indica causa, ou explicação, mas isso não significa que não podemos utilizá-las em frases interrogativas como veremos nos exemplos a seguir:
- Atrasei-me porque acordei tarde. / Atrasei-me pois acordei tarde.
- Você está chateado porque me atrasei? / Você está chateado pois me atrasei?
Vale a pena observar que tanto em “porque acordei tarde”, quanto em “porque me atrasei” as orações expressam o “motivo” pelo qual algo aconteceu, estando aqui sempre relacionado a ideia de causa ou explicação.
Por quê (separado e com acento)
Assim como em “por que” ele subentende a palavra razão. Além disso esse “quê” recebe um acento pois quando utilizado é necessário que haja uma pausa, um ponto de interrogação ou final após ele, destacando assim a entonação tônica.
Veja a seguir:
- Você estuda tanto, por quê?
- Ele falou tanto e não disse o por quê.
Em ambas situações o por quê carrega uma relação com a razão, e por encerrar a frase leva também o destaque tônico.
Porquê (junto e com acento)
Neste caso a dica é substituição, aqui o “porquê” funciona como sinônimo da palavra motivo, ele cumpre uma função de substantivo. Além disso ele sempre é precedido por um artigo ou numeral.
Atente aos exemplos:
- Qual o porquê de você me contar isso agora? / Qual o motivo de você me contar isso agora?
- Me diga o porquê de tanta tristeza. / Me diga o motivo de tanta tristeza.
Se como nas frases acima for possível substituir o “porquê” pelo termo motivo, e além disto ele for determinado por um artigo ou numeral, de que forma cumpra o papel de substantivo, então você também está utilizando o porquê corretamente.
Por que não começar a treinar seus porquês agora mesmo?
Profª Angela Dib
Graduada em Letras pela UNIFESP.
Pós-graduanda em Direito à Educação pela USP.